quinta-feira, 25 de março de 2010

"Dos jornais-I: o futebol não tem necessariamente de ser um meio de alienar os indivíduos... só que geralmente é..."


Dos jornais [os jornais---sempre assim pensei---permitem ao observador minimamente atento e interessado obter de cada sociedade onmde são produzidos retratos em tempo real que, em tese, muito poucas coisas substituirão em fiabilidade e relevância documental objectiva]; dos jornais, dizia, extraio, a seguir, duas notícias para breve abordagem contextualizante neste novo "Diário", herdeiro mais reservado [mais "confidencial"] dos meus 'filhos virtuais' anteriores, o "Quisto" e o "Zanzibar", de momento, um pouco votados a algum, aliás, voluntário---relativo---ostrascismo por razões recentes que não vêm, porém, de todo, agora ao caso.

A primeira dessas notícias diz algo sobre o modo como em Portugal o civismo é visto [e gerido para o exterior] por instituições, de algum modo [para muitos, pelo menos] 'de referência', como são os clubes desportivos, no caso vertente, o Nacional da Madeira.

Foi o caso de, segundo o "Record" de hoje o SEF ter dirigido, no estrito exercício das suas funções estatutárias, uma investigação no campo de futebol do clube em causa omde militam vários estrangeiros.

Sempre fui de opinião que, no caso das polícias, nunca devemos esquercer [nunca devemos esquecer nós enquanto cidadãos e nunca, em caso algum, deviam ignorá-lo e muito menos despercebê-lo, as instituições-chave do sistema político] que é a polícia que serve os cidadãos---mais rigorosamente: que é a polícia que serve a Cidadania!---e nunca, em caso algum, o contrário.

Ou seja, no modo como nos relacionamos com as instituições policiais, sejam elas quais forem, deve estar sempre implicitamente definido, que são os direitos da Cidadania que constituem o fulcro, a chave, do que vai ali ou a partir dali acontecer sem o que tudo quanto ali ocorrer sai inevitavelmente pervertido e corrompido.

Mais: que é dever de cada cidadão, tendo percebido isto, i.e. o essencial desta relação funcional com o que deve ser sempre a sua polícia e o objectivo real do trabalho da mesma, com ela colaborar na certeza de que é consigo próprio que, em última mas real instância, colabora também.

Só nas sociedades a que por mais de uma razão, chamo "inversionais" é que os cidadãos podem ver em qualquer das suas polícias um estorvo ou, pior ainda, um adversário.

Ora, ao reagir com "indignação" [?] e propondo-se "enviar uma carta ao Ministério da Administração Interna dando conta do seu descontentamento por esta situação" o clube demonstra [e passa para o exterior a mensagem respectiva] que não percebeu nada disto.

"Indignar-se" porque os ógãos de polícia fazem... aquilo que devem fazer?!
"Escrever cartas" ao Ministério da Administração Interna de cada vez que eles fazem---e porque elas fazem!---aquilo para que foram criadas?!

"Manifestar descontentamento" pelo facto de---alguns pelo menos---dos ógãos da democracia institucional [ainda] funcionarem?!

Com gente que assim pensa [e, mais grave, ainda: que assim "faz pensar" para o exterior] como poderá o País aspirar a ter uma Cidadania verdadeiramente consciente, responsável e apta a exercer, da forma natural---como o exercício em causa deve, em todos os casos, ser levado a cabo---os seus direitos como, de igual modo, os seus deveres?

Poder-se-á argumentar: é apenas um clube de futebol e, ainda por cima, regional.

A verdade é que é precisamente este tipo de instituição que mais próximo está das pessoas que mais hipóteses tem, também, por essa mesma razão, através de processos que são conscientes ou não, de influenciar o modo como, enquanto cidadãos, muitos de nós que não outros meios de fazê-lo de forma consistente e/ou regular, se posicionam relativamente à sociedade, e, dentro dela, especificamente em relação à democracia formal assim como, de uma forma muito concreta e muito directa, às instituições específicas que compõem e definem uma e outra.

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