quinta-feira, 25 de março de 2010

"Naughtopy, o título..."


... vem de um conceito que pessoalmente cunhei para a obra de Beckett e que me proponho aqui desenvolver: "naughtopy", a "atopia final" ou 'utopia zero', envolvendo o "des-nascimento" e o "des-nacer" e, por extensão, o mero "esser" [o estado natural dos objectos como tal, por oposição à "ideia significada" de 'ser', associável, por seu turno, à condição especificamente humana e envolvendo---alguma, pelo menos---consciência de si e [d]o próprio desejo, [d]a própria vontade, de transformar o "esser" em "ser" [o "ser" resulta, em tese, tal como eu o vejo, da integração da vontade no "esser"]---tudo ideações francamente beckettianas às quais voltarei, como disse, mais adiante no decurso destas notas.

A estas, junto ainda as ideias de "comédia ontológica" [um motivo que atravessa transversalmente toda a opus beckettiana] e de "transrealismo fenomenoménico" ou "fenomenológico" que, no contexto das notas referidas, detalharei.

Para já, ficam aqui a imagem do Artista [é um lugar comum irresistível acrecentar: "um dos maiores do século XX"...] e a explicação breve do título do próprio blogue.

"Dos jornais-I: o futebol não tem necessariamente de ser um meio de alienar os indivíduos... só que geralmente é..."


Dos jornais [os jornais---sempre assim pensei---permitem ao observador minimamente atento e interessado obter de cada sociedade onmde são produzidos retratos em tempo real que, em tese, muito poucas coisas substituirão em fiabilidade e relevância documental objectiva]; dos jornais, dizia, extraio, a seguir, duas notícias para breve abordagem contextualizante neste novo "Diário", herdeiro mais reservado [mais "confidencial"] dos meus 'filhos virtuais' anteriores, o "Quisto" e o "Zanzibar", de momento, um pouco votados a algum, aliás, voluntário---relativo---ostrascismo por razões recentes que não vêm, porém, de todo, agora ao caso.

A primeira dessas notícias diz algo sobre o modo como em Portugal o civismo é visto [e gerido para o exterior] por instituições, de algum modo [para muitos, pelo menos] 'de referência', como são os clubes desportivos, no caso vertente, o Nacional da Madeira.

Foi o caso de, segundo o "Record" de hoje o SEF ter dirigido, no estrito exercício das suas funções estatutárias, uma investigação no campo de futebol do clube em causa omde militam vários estrangeiros.

Sempre fui de opinião que, no caso das polícias, nunca devemos esquercer [nunca devemos esquecer nós enquanto cidadãos e nunca, em caso algum, deviam ignorá-lo e muito menos despercebê-lo, as instituições-chave do sistema político] que é a polícia que serve os cidadãos---mais rigorosamente: que é a polícia que serve a Cidadania!---e nunca, em caso algum, o contrário.

Ou seja, no modo como nos relacionamos com as instituições policiais, sejam elas quais forem, deve estar sempre implicitamente definido, que são os direitos da Cidadania que constituem o fulcro, a chave, do que vai ali ou a partir dali acontecer sem o que tudo quanto ali ocorrer sai inevitavelmente pervertido e corrompido.

Mais: que é dever de cada cidadão, tendo percebido isto, i.e. o essencial desta relação funcional com o que deve ser sempre a sua polícia e o objectivo real do trabalho da mesma, com ela colaborar na certeza de que é consigo próprio que, em última mas real instância, colabora também.

Só nas sociedades a que por mais de uma razão, chamo "inversionais" é que os cidadãos podem ver em qualquer das suas polícias um estorvo ou, pior ainda, um adversário.

Ora, ao reagir com "indignação" [?] e propondo-se "enviar uma carta ao Ministério da Administração Interna dando conta do seu descontentamento por esta situação" o clube demonstra [e passa para o exterior a mensagem respectiva] que não percebeu nada disto.

"Indignar-se" porque os ógãos de polícia fazem... aquilo que devem fazer?!
"Escrever cartas" ao Ministério da Administração Interna de cada vez que eles fazem---e porque elas fazem!---aquilo para que foram criadas?!

"Manifestar descontentamento" pelo facto de---alguns pelo menos---dos ógãos da democracia institucional [ainda] funcionarem?!

Com gente que assim pensa [e, mais grave, ainda: que assim "faz pensar" para o exterior] como poderá o País aspirar a ter uma Cidadania verdadeiramente consciente, responsável e apta a exercer, da forma natural---como o exercício em causa deve, em todos os casos, ser levado a cabo---os seus direitos como, de igual modo, os seus deveres?

Poder-se-á argumentar: é apenas um clube de futebol e, ainda por cima, regional.

A verdade é que é precisamente este tipo de instituição que mais próximo está das pessoas que mais hipóteses tem, também, por essa mesma razão, através de processos que são conscientes ou não, de influenciar o modo como, enquanto cidadãos, muitos de nós que não outros meios de fazê-lo de forma consistente e/ou regular, se posicionam relativamente à sociedade, e, dentro dela, especificamente em relação à democracia formal assim como, de uma forma muito concreta e muito directa, às instituições específicas que compõem e definem uma e outra.

Incompleto


Um texto recente de Rui Tavares, deputado europeu do Bloco de Esquerda, vindo a lume no "Público" de quarta-feira, 10, ["Boletim de Estrasburgo"] traz, a quem a souber ler, utilíssima informação sobre a realidade [e, especificamente sobre a qualidade!] da democracia nos países do Ocidente, hoje.

A propósito de uma intervençãqo recente do deputado Paulo Rangel do PSD informa Tavares sobre uma figura regimental parlamentar europeia [vagamente equivalente ao chamado 'período de antes da ordem do dia' português, esclarece Tavares] comummente designasda pr "discursos de um minuto" onde são [eu diria, a julgar pelo que o próprio Rui Tavares escreve: de forma completamente avulsa e indiscriminada] abordados temas como a obesidade ou aquele que Rangel abordou envolvendo a questão essencial da liberdade de imprensa nas chamadas democracias parlamentares.

Assuntos referentes, pois, à realidade quotidiana mais próxima e concreta das pessoas, dos cidadãos anónimos, nos diversos países europeus---ou mais precisamente "europeus".

O problema, diz Rui Tavares ainda, é que esta figura regimental onde são abordadas questões importantes da vida das pessoas e das sociedades por elas constituídas, segundo o deputado bloquista apenas [e vou citá-lo] "servem para alinhar ideias, deixá-las registadas [...] mas não tem consequências práticas".

É ainda a figura em causa utilizada, explicita Rui Tavares, "principalmente" para cada deputado "deixar em acta [Tavares escreve "ata" porque aderiu, pelos vistos ao tal "acordo" ortográfico] [1] que falou".

É verdade que existe uma outra figura que Rui Tavares refere como "questão oral à Comissão" que pressupõe, obriga, à aberura de inquérito ou "debate com resolução".

Foi o que fez Rangel quando entendeu levar ao Parlamento Europeu a questão do que entende serem atentados à liberdade de imprensa em Portugal perpetrados pelo actual governo Sócrates?

Não, não foi!

O que Rangel fez foi precisamente utilizar a tal figura meramente "platónica" ou estr[e]itamente "moral" do "discurso de um minuto"---pelo que, opina Tavares, não se justificam, de modo algum, as críticas de que foi alvo por supostamente ter "colocado de risco a nossa economia", como terá dito o pomposo Passos Coelho no seu estilo sempre "verbal e argumentativamente peludo e tão caracteristicamente retórico, ao levar a público, na tal "Europa" a crítica em causa quando o país se achava e acha "sob o olhar das agências de rating".

E o problema reside, em meu entender, exactamente aqui: na existência de figuras regulamentares "estrita ou mesmo estreitamente apenas platónicas e/ou morais" a que os deputados podem recorrer sempre que pretendam apenas e somente "deixar em acta que falaram" sem que o que dizem tenha outras consequências reais para além disso e de utilizarem as próprias instituições do que devia ser a maior democracia do mundo por ser a soma de várias democracias dificilmente conquistadas, digamos assim, à própria História---às suas próprias e, muitas vezes, bem acidentadas Histórias particulares---para "jogos" marginais espúrios que são de mero "arremesso interpartidário" e de "marketing pessoal" [envolvendo a construção de imagens pessoais de rigor e exigência] tendo, porém, para tanto assegurada a completa e, a meu ver: de todo imoral, impunidade em termlos de consequências práticas, efectivas, daquilo que dizem.

Ou seja: na realidade, eles não pretendem mudar seja io que for---e o caso do caso de Rangel é bem esclarecedor.

Rangel é deputado pelo Partido "de" Santana Lopes que asinda há meia-dúzia de dias propôs e viu aprovado no congresso do partido de ambos uma medida que, se não limitava aberrantemente a imprensa, limitava, escandalosamente, a de opinião de cada um; o partrido que pressionou com êxito "uma tal TVI" para que corresse com "um tal Marcelo Qualquer Coisa" que por lá debitava uns comentários que não agradavam ao "tal Lopes" e por aí fora.

Numa palavra: não tenm qualquer autoridade moral para falar de reduções e limitações sejam elas de que espécie forem em matéria de liberdades cívicas---o que, aliásd, nem se reveste, na prática, de uma gravidade por aí além porque não é crível que na "Europa" saibam que é Lopes e o que fez enquanto esteve num governo qualquer numa ponta da Europa chamada Portugal.

Rangel "lembrou-se daquela" porque obviamente lhe dá jeito na guerra que o "pê-ésse-dê", agora que se viu livre de Ferreira Leite e que pretende que acreditemos ter encontrado um "espírito" novo, quer travar com o "pê-ésse" e percebe que "aquela" do Face Oculta ainda lhe pode render dividendos sem o obrigar rigorosamente a coisa alguma.

Se Rangel levasse a sério a luta contra o estúpido autoritarismo do poder político actual e a sua escandalosa [e evidente!] vontade de manipular a opinião em Portugal a fim de eternizar-se quanto puder à frente dos destinos do País e estivesse de facto interessado em mudar, através das instituições "europeias", o que quer que fosse, teria obviamente accionado a figura do "debate com resolução".

E é exactamente isso o que está mal nas "demomorfias ocidentais" e lhes permite passarem sem sê-lo realmente por democracias genuínas: a possibilidade que dão a quem não pretender minimamente [parecendo, todavia, sempre dá-lo!] dar o salto qualitativo das meras... "aparências funcionais" para a efectividade e a genuinidade de uma Democracia" legítima


NOTA
[1] É um parênteses mas já repararam que o acordo em causa é também, além de "ortográfico" fonético e disfarçadamente normativo?

Supostamente, deveria servir para uniformizar [feia palavra e mais do que debatível conceito!] uns quantos vocábulos do português.

A verdade, porém, é que, por exemplo, eu quiser, no caso vertente, pronunciar "áqueta" [e tenho obviamente legitimidade linguística para fazê-lo] o tal "acordo" impede-mo, impondo-me uma grafia---a que Rui Tavares utilizou---que coloca a minha loiberdade articulatória implicitamente "fora da lei"

Eu não tenho, juro, quaisquer manias persecutória e não sou tentado a ver nisto, i.e. nesta imposição de uma fonética com a subtendendida redução objectiva, material, da minha liberdade de utilizar a língua ou seleccionar livremente possibilidades idiolectais senão um efeito secundário, um "backfire" objectual da incompetência manifesta de quem "acordou".


Agora que a redução da liberdade existe, ai, isso é evidente!

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Desporto para «naughtópicos»"


Os «naughtópicos» não praticam o desporto sem grandes reservas e precauções de toda a ordem: "sport", como dizia outrora uma canção célebre a propósito desse outro autêntico perigo público para a saúde que é a liberdade nas suas diversas formas, "is a word I rarely use without thinking"...

Seja como for, há actividades desportivas que, se praticadas com critério e prudência, podem ser realizadas com evidentes vantagem para a saúde «naughtópica».

Por exemplo, no meu caso os desportos que pratico [e sempre me dei bem com eles, devo dizer...] são burrice em comprimento, estupidez em altura e, uma vez por outra, o existencialismo radical também chamado triatlo existencial, ou seja, niilismo de interior, cepticismo-leninismo e auto-flagelação tântrica.

Um programa completo que, se realizado como deve ser, poderá em muito prolongar a vida dos «naughtópicos» em pelo menos [e isto é definitivamente fazer as contas muito por baixo!] o melhor de zero anos!


Quem é amigo, quem é?...

"Primeira receita para uma saúde existencial de ferro"


Este vai ser um blog centralmente focado na reflexão sobre diversos aspectos da realidade circundante entre os quais a questão verdadeiramente fundamental da saúde nas suas várias formas.

Por isso, nada melhor do que começar com a minha própria receita para a saúde perfeita que é:

Pouca carne, inteligência nem vê-la e muito ioga moral.

É limpinho!
Ah! E convicções, só uma colher de chá ao pequeno almoço.


Experientem e vão ver que se dão bem!